Edmar Moaraes (*)
Em 2021 as assinaturas de vídeo online ultrapassarão as assinaturas clássicas de TV paga. Esse número considera, em média, duas assinaturas SVOD (Subscription Video on Demand) por residência. Em números absolutos o streaming será maior, mas longe ainda de chegar perto da arrecadação financeira, assim como geração de lucros, para essas plataformas.
A adoção do streaming
em todo o mundo foi acelerada pela Covid-19. Exemplo disto é a plataforma da Netflix
que ultrapassou os 200 milhões de assinantes globalmente no quarto trimestre de
2020. Na América Latina tivemos movimentos importantes no Brasil, com a parceria
entre a GloboPlay e a Disney+, assim como o crescimento da Plataforma Flow da
Telecom Argentina. Em comparação, o consumo da TV linear se estabilizou com
aumento em países em desenvolvimento compensando as reduções de outras regiões como
a Europa e Estados Unidos.
O crescimento do vídeo
online tende a continuar com os lançamentos recentes de novos serviços SVOD,
como Disney+ e HBOMax, e da captação de novos assinantes na América Latina. A
popularidade das plataformas AVOD (Ad-based Video-on-demand),
monetizadas via publicidade como Peacock e Hulu (nos EUA), farão com que a
receita de anúncios dobre para US$ 63 bilhões em 2024. As receitas da TV, por
outro lado, permanecerão estáveis ou diminuirão marginalmente, já que as
receitas de anúncios voltarão aos dias anteriores à Covid e a queda gradual na
TV paga tradicional.
A TV por assinatura
tem sido um negócio sustentável porque as pessoas estavam dispostas a pagar para
ter acesso à conteúdos não disponíveis
na TV aberta . Este cenário tem mudado, uma vez que mais e mais conteúdos estão
disponíveis on-line e os usuários passaram a ter maior poder de decisão sobre o
que consumir ou não. Assim, conteúdos com pouca audiência, que antes eram
empacotados juntos e o usuário tinha que pagar por eles, passam a ter maior
dificuldade neste novo ecossistema. Por outro lado, o excesso de conteúdos
disponíveis e a dificuldade do usuário saber da existência deles, acabou
gerando a necessidade de agregadores que possam fazer a curadoria e gerenciar
de forma mais fácil o acesso, sem que os usuários tenham que ter dezenas de
senhas e gerenciar pagamentos em múltiplas plataformas para ter o pacote
desejado.
Outro fator a ser
considerado é a dificuldade em monetização.
Hoje quase todas as plataformas têm baixa ou nenhuma lucratividade. Isto
se deve a grandes investimentos necessários para a produção ou compra de
conteúdos e o grande custo de marketing e distribuição. Diferente das
plataformas de distribuição tradicionais (como o cabo, IPTV e satélite) o custo
da distribuição via CDN (Central Distribution Network) aumenta
significativamente com o aumento do volume. Algumas plataformas estão buscando
soluções, como a inserção de publicidade mais direcionada (para canais
lineares) ou modelos mistos com SVOD e AVOD, onde o usuário pode optar ou por
pagar mais, sem publicidade, ou reduzir o seu custo, aceitando assistir a
inserções publicitárias antes ou mesmo durante a exibição do conteúdo.
O streaming tem tudo a
ver com alcançar escala e as grandes plataformas estão recorrendo a estratégia
‘ABCD’, que é composta de Ad Insertion (Publicidade), Bundling (Empacotamento),
Consolidation (Consolidação) e Distribuition (Distribuição). Quem
fizer isto com mais eficiência e qualidade, conquistará o gosto e bolso dos
consumidores.
Em resumo, pode-se
afirmar que o streaming, tanto para canais lineares como em VOD, continuará a
crescer fortemente nos próximos anos, especialmente agora que a agência
reguladora (Anatel) confirmou que isto pode ser feito no modelo de Serviço de
Valor Adicionado e não por um modelo de TV por Assinatura. Isto não significa que a TV por assinatura vai
perder a sua relevância, ao contrário, é possível observar os broadcasters no
contra-ataque desta guerra comercial, principalmente nas aquisições e produções
exclusivas de conteúdos premium como esportes ou até mesmo series consagradas. No
final, o usuário está interessado no conteúdo e na facilidade de acessá-lo. Em
uma guerra comercial como está, não se pode descartar mudanças profundas nos
modelos comerciais e um processo de consolidação no mercado, uma vez que a
escala é que fará toda a diferença.
(*) Diretor de Negócios e Desenvolvimento da Abott's.
Publicado originalmente na Revista Top C-Level - Edição 01 – Junho 2021